domingo, 11 de dezembro de 2011

Só algumas palavras

      “Quero ver você não chorar, não olhar pra trás nem se arrepender do que faz...” Quando era criança eu cantava esta música nesta época do ano, e sempre me significou que o ano acabou e chegava a hora de juntar a família para comemorar. Ao longo dos anos alguns hábitos podem ter mudado, mas juntar a família, que pode ser de amigos, para comemorar esse período, continua. E a cada ano algumas ausências passaram a ser sentidas, o avô, o tio, o amigo que não iriam começar um novo ano.
      Uma cadeira vazia ou uma história sem contar, é assim que começamos a entender a palavra saudade, e saber porque ela dói tanto. O luto, esse sentimento que externaliza a dor da saudade, se não for elaborado, nos aprisiona num tempo em que viveremos eternamente presos ao instante onde a vida já deixou de existir, em que o presente está vazio e o futuro é sem sentido. Na criança a morte é vivenciada de forma mágica, não como definitiva, até com possibilidade de superação, é só lembrar dos desenhos animados. E quando falo de perdas não digo apenas da morte propriamente dita, mas das faltas transfiguradas nas inúmeras perdas que sofremos durante toda nossa existência, como quando se torna adolescente e existe o luto pela criança perdida nesse processo de crescimento.
      A todo o momento há a falta, e como qualquer forma de dor, quando não aceitamos, traz sofrimento. Elaborar um luto é experiência, aprender a viver com a ausência, com perda, buscando algo novo que vá nos preencher, uma verdadeira aprendizagem. O luto é da morte, e não da vida, o que morre são partes de nós.   Perde-se a identidade, então nos sentimos sozinhos e enfraquecidos para aceitar, mesmo o que já era previsto.
      É certo sentir dor, é certo chorar e até mesmo sofrer, assim como também é certo continuar vivendo. Numa relação de amor, a perda sempre causará dor, e devemos experimenta-la, sendo que o que nos conforta é que o outro teve seu instante na eternidade e fez a diferença enquanto existia. Mas que o nosso instante ainda não acabou, e clama por ser bem aproveitado. A tendência hoje é fazer tudo depressa, o mais indolor possível, reduzindo-se a simbologia ao mínimo necessário. Isso tem conseqüências: as pessoas não conseguem fazer o processo de luto, há um ocultamento da morte, é só lembrar que tempos atrás, o velório ocorria na sala de casa, e hoje a morte é longe, é branca, no hospital.
      As principais tradições religiosas – judaísmo, cristianismo, islamismo, budismo e hinduísmo – possuem seus próprios rituais e explicações para a morte. A finitude é a grande mãe dos filósofos. Vou sentir muito sua falta nesse Natal...

Um comentário:

  1. Olááa... nossa me emocionei com o post. É verdade hoje em dia é tudo tão rápido, pois vivemos na tal era digital, onde tudo precisa de velocidade. Esquecemos que na vida real o tempo é outro. Esquecemos do nosso tempo. Lindíssimas palavras, vou sentir falta de muita gente também neste Natal. Pessoas que se foram, mas como vc disse, vão deixar pra sempre muita saudade.

    BEijos

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